segunda-feira, novembro 07, 2005

Frio...

O sol espreita mas não traz nada de novo. O mesmo sol, o mesmo cenário, o mesmo guião mas sem a luz que preciso...
Tento arrancar-me do frio que faz, apesar dos abraços tão quentes e tão ternos...
Eu quero ter fôlego, parar e parar de chorar... mas as lágrimas já sabem o caminho de cor. E eu arrasto-me, arrasto o peso bruto de um corpo por este cenário de céu tão escuro e árvores despidas... também elas devem gelar...
Não quero estar aqui fora, quero estar no meu dentro mas eu quero um dentro quente... não quero estar aqui fora onde tudo corrói, onde o vento passa e tenta agarrar-nos os pés... onde tudo se quer manter quente e os esforços são tão grandes... mas o meu dentro é frio e o ar que lá corre tornou-se tão rarefeito e gélido que queima e sufoca ao mesmo tempo. Os músculos da cara pesados, tão pesados, os olhos cerrados e húmidos, os lábios roxos, a pele pálida com veias geladas... as mãos enregeladas, os movimentos mecânicos, os músculos entorpecidos... frio, tão frio... Não quero desistir, deixar-me morrer mas não faço nenhum movimento. Luto por dentro. Empurro o bafo quente para o interior, as mãos não se movem mas friccionam os meus músculos, os meus ossos, o meu sangue...
Tento a todo o custo sentir o calor... e se não conseguir?...
Ficarei aqui, no cenário escuro, à espera de um novo cenário, à espera de um novo guião... à espera de mais luz? Ou espero pelo fim inevitável do filme?