sexta-feira, janeiro 20, 2006

Estrela-do-mar

Era uma vez uma estrela do céu. O céu agarrava-a pelas suas cinco pontas, mantendo-a sempre fixa e imóvel, no seu canto azul-escuro. Do céu, ela via o mar, as ondas pequeninas que se formavam lá do fundo da sua visão, e que embatiam contra a areia. Via a espuma branca que se formava depois, naquela dança de grãos de areia com conchas, conchas com búzios, búzios com pedrinhas, formando mais e mais areia. Tão bela paisagem, mas tão cansativa. Ela queria ver coisas novas, queria ver o mar e a areia de perto, ver o céu lá de baixo, sentir o movimento, não ficar para sempre presa naquele seu céu escuro. Lá em baixo havia um mundo de cores à sua espera… os seus olhos ficavam já fartos de observar sempre o mesmo azul, sempre o mesmo branco da lua, sempre o mesmo dourado das suas companheiras… Lá em baixo não havia menos que meios dias, lá em baixo existia um dia, um dia completo para aparecer e viver para o universo em seu redor.
Numa bela noite, a estrela do céu decidiu forçar os fios que a prendiam. Puxou, puxou, e por fim, uma das cordas finas e transparentes quebrou, forçou outra, e quebrou, e mais outra e outra, e por fim a última das suas cinco pontas descolou do céu, partindo em dois a última corda. A estrela caiu desamparada pelo céu fora, deixando atrás de si um longo rasto dourado e brilhante… caiu no mar. O contacto com as ondas do mar foi súbito. Para uma estrela do céu, sempre quieta, o movimento do ondular das ondas foi um choque. Por cima das grandes vagas, que lá do alto lhe pareciam tão pequenas, ela tentava observar o céu…E lá o viu. Nunca o viu tão extenso e com tantos pontinhos brilhantes. Era belo. Desceu ao fundo do mar, sentiu a areia nas suas cinco pontas, tocou os peixes, conchas e búzios… Mergulhou no movimento, mergulhou para um universo, diferente… não havia nada igual, nada fixo… havia sim grande variedade de tudo, cheio de cor, cheio de diferenças.
A estrela do céu passou a ser a estrela-do-mar. Com a sua partida do céu, também algumas partiram do céu para o mar, à procura de um novo mundo. Poucas se conseguiram desprender das suas cordas transparentes… Talvez será essa a razão para a qual existe mais estrelas do céu do que estrelas-do-mar, e também será essa razão pela qual vemos tão poucas vezes estrelas cadentes…poucas têm coragem de se lançarem a um mundo desconhecido, poucos têm medo de deixar um brilho físico, para brilharem por dentro, para se sentirem plenos…Poucos têm força para contrariar os fios que as puxam…

4 comentários:

Anónimo disse...

adorei o texto! mas ja t tinha dito..ja o tinha lido =P manda praki tudo o k tiveres!valem a pena =)

Anónimo disse...

"Poucos têm medo de deixar um brilho físico, para brilharem por dentro, para se sentirem plenos…Poucos têm força para contrariar os fios que as puxam…" Gostei deste final! Mesmo! Acho que é isso. Tu brilhas por dentro. Pelo menos para mim...

Sara Morgado disse...

Às vezes (e mais do que gostaria), todos temos medo de quebrar os fios. É mais fácil ficar quieto e sossegado mesmo sabendo que para lá temos um mundo melhor. Ficamos quietos porque não nos "estamos para chatear".
No entanto, é sempre melhor esse "tocar do que ver". É e sempre será melhor quebrar todos os fios por mais invisíveis que sejam (e mesmo assim tão fortes). É bom quebrar, estravazar, tocar e ver toda uma outra dimensão que apenas conhecemos de histórias de heróis que quebraram as correntes e ficaram conhecidos como atrasados mentais. Na realidade, todos eles estão muito mais à frente e preferiram não fazer parte de toda a mediocriade.

(hoje tou muito estranha.)

Viva o Che :)

Anónimo disse...

É verdade Sara, é por isso que os génios são sempre imcompreendidos...
As pessoas que ainda estão presas nos seus fios têm sempre dificuldade em compreender as pessoas soltas..