quarta-feira, setembro 21, 2005

Escuro da loucura

Quando finalmente abri os olhos, encontrei a escuridão. Levantei-me de uma cama, sentei-me e o meu corpo acostumou-se ao negro.
De uma janela surgia uma luz ténue e difusa que dava ao quarto a luz necessária para distinguir as formas do quarto. Havia a cama, a janela, e uma mesa pequena com dois copos. Ao lado da mesa, uma porta de madeira, onde cheguei tropeçando em mim mesma. Coloquei a mão no puxador. Estava fechada. Olhei em volta. Não existia nada mais...
Aninhei-me sobre mim mesma, esfregando os olhos, desgrenhando o cabelo. Coloquei a cabeça entre os joelhos. "Estou sozinha, num quarto escuro", pensei.
- Não estás sozinha...- disse uma voz- "...estamos todos aqui..."- disse uma voz de mulher-"...os teus demónios!" Riram em uníssono, espalhando o terror na minha pele. Nada se via, apenas se ouvia risos abafados. Mas a pouco e pouco, as formas no escuro tinham forma e volume. Quatro olhos, dois narizes, duas bocas distinguiam-se, e corpos escanzelados aproximavam-se de mim. Cada um segurava algo nas mãos. A mulher segurava uma faca,e o homem um machado. As vozes deles estavam em mim, bem dentro de mim, sibilando, mas gritando ao mesmo tempo.
Matar...nós...vamos ...te MATAR!
Corri para a porta, e gritei de terror. Matar...agarrei o puxador com mais força e voltei-o...nós...bati na porta...vamos...ouvi a minha voz quase muda...te...Eles querem-me...MATAR!
Eles puxavam-me agarrando as minhas pernas, lutei para me voltar e pontapeá-los, mas não consegui...a mão do homem agarrava-me..." Não consigo, vão-me matar..meu sangue..." As minhas unhas cravaram-se na madeira apodrecida da porta, mas escorreguei e senti lascas penetrarem a pele. Soltei-me da porta. Virei-me e encontrei os olhos deles, vermelhos raiados de sangue, talvez meu sangue, o riso sair e vaporizar o ar, queimá-lo e deixar-me privada dele, estava a sufocar...Os meus gritos e aqueles risos cobriam o quarto.
Do outro lado ouviram-se passos, passos apressados. Ouvi o meu nome, mas não respondi. Gritei apenas. Terror, medo, dos meus olhos brotavam lágrimas. Eu ia morrer. Os meus demónios, as vozes na minha cabeça, dentro dele, em cada neurónio, a morte. Lutei contra eles. Arranquei a faca daquela mulher...golpes profundos nos olhos, na boca, no nariz. O homem observava a cena a sorrir-me deleitando-se.
Abriu-se a porta. A luz entrou repentinamente no quarto. A mulher afastou-se segurando a cara com as mãos...o homem a sorrir.Uma mulher entrou no quarto agora iluminado. Os seus olhos expressavam terror. O quarto estava destruído, não restava nada inteiro.
Ela tentou aproximar-se de mim, mas fugi-lhe e sentei-me num canto do quarto
-Eles estão ali, eles queriam matar-me...eles iam...meu sangue...- murmurei entre dentes. A voz calma da mulher ouviu-se:
- Eu sei...está tudo bem, tudo bem..."
A voz aquietou-me. Comprimi a cara nos joelhos e baloicei-me. Não estava muito certa.
-...eles vão-me matar...
Ela aproximou-se, tomou o meu braço, olhou as minhas mãos com unhas desfeitas, olhou a minha cara com sangue seco, olhou-me nos olhos.
- Descansa...
Olhei a cama onde antes estavam os demónios. Estava vazia. Os olhos fecharam-se pesadamente. A mulher sorria-me muito longe. Não se via nada, não se ouvia nada. Pouco e pouco o silêncio voltou, e a escuridão reinou dentro de mim outra vez, calma e escura...

4 comentários:

Anónimo disse...

Com mais ou menos pormenores já vi alguns e algumas assim... Digo-te que é dum sofrimento atroz, indiscritível! Agora, como é que tu descreves isso tão bem? Serão as minhas (más) influências?...

Sara Morgado disse...

Woooow!! Está completamente esquizofrénico e demente.
(Foi sem dúvida um elogio)

Anónimo disse...

bm..que texto assustador..mas lá está..sejam quais forem esses demónios só tu os conheces..e talvez a tua mana=P espero que consigas afuguenta-los a todos!..bjocas!

Anónimo disse...

bm..que texto assustador..mas lá está..sejam quais forem esses demónios só tu os conheces..e talvez a tua mana=P espero que consigas afuguenta-los a todos!..bjocas!