terça-feira, setembro 20, 2005

Quadro

Não era assim que imaginava o meu quadro. Uma praia, com o mar calmo, mas com ondas que chegam aos pés em forma de espuma. Também esperava o céu mais claro, sem muitas nuvens, para poder observar. Não era com este quadro que me queria partir em milhares de particulas cheias de espectros, cheios de sombras, falhas, cheiros, vozes, pessoas... cheias de todo esse nada que não me é nada e nem quero que me seja alguma coisa.
Sinto a espuma cada vez mais gelada, deito-me na areia, deixo a espuma lember o meu corpo. Deixo as particulas cheias lamber a mente. Não há nada que eu deseje nestas particulas cheias, absolutamente nada. Os espectros deixá-los-ei nas sombras, que se encontram nas falhas. Os cheiros e as vozes pertencem às pessoas...nada me são. Deixá-los-ei.
O frio percorre os restos de mim, mas nada disso importa realmente. Fundi-me na areia, não distingo o que é meu, do resto do quadro, apenas memórias, memórias frias esbatidas pelo sofrimento, só distingo a morte no meio deste quadro;O céu que se fecha sobre mim, as nuvens agora negras...a morte é o que me resta, entregar-me ao nada, atirar a vida para o fim, cuspir a alma pela boca, sair todo o peso deste corpo inútil, de pessoa inútil, num mundo inútil. Desisto de tudo, que a água me engula, que as lembranças se afoguem no turbilhão de mar, mar dos perdidos.
Descolo o corpo da areia. Recorto os braços e as pernas, recorto a cabeça, destaco-me ali. Levanto-me. A água escorre, escorre em gotas pelo meu corpo, serão estas as lágrimas que nunca irei chorar?Pequenas gotas caiem do céu, as ondas tocam o céu. Vou caminhar até até chegar à linha que separa os dois azuis. Quero caminhar, andar, encher o peito daquele cheiro a mar, inspirar, expirar a liberdade que não tenho, o amor que nunca tive. Não tenho nada, e por iso caminho. Não sou nada, e por isso sou aquela que caminha com a água na boca. Continuo a caminhar, não vou parar agora, tão perto estou, posso tocar a morte. Sinto a água entrar no nariz, na boca, na garganta, afogar os pulmões, encharcar o coração...estou mergulhada,existo, mas estou por um fio.Não me consigo mover, estou ali a ser puxada para o fundo. Parti-me em particulas, cheias de água, sou parte do mar, e não me vou recortar nem destacar nunca mais...

4 comentários:

Sara Morgado disse...

Não deixes a água comer-te, desfazer e roubar o que é teu. Vá lá, eu dou-te a mão e puxo-te cá para cima.
Afinal não és nada. És muita coisa e o mar não tem o direito de te fazer isso.
(Tá lindo)

Anónimo disse...

=)))

Anónimo disse...

Coki!!!!!!!!
é verdade, ainda procuro aquele azul, mas eu vou encontrá-lo..ajudas-me???
Beijinhos do tamanho do mundo maninha!

Anónimo disse...

bm..comecei a ler e agora n consigo parar..vou subindo o texto e lendo e lendo e n m apetece parar de ler..tens mt jeito pa escrever,sem duvida =) já vi o quadro e axo que tá lindo..mas é cm a tua mana diz..nem tudo é como a gente quer..há que ir tentando até conseguir..e nunca desistir..se valer a pena,nunca se deve desistir, por mts k sejam os obstaculos..Parabens pelo blog, quanto mais leio, mais quero ler =)